segunda-feira, 6 de junho de 2011

Apenas Um Acidente

Boa noite

A história de Pollyana continua, espero que estejam gostando, eu sei que gosto cada vez mais dela. Mas sou suspeita a falar, agradeço o apoio da minha inspiração que mesmo envolto nas minhas tempestades repentinas, sempre me apoia e incentiva. E a outra amiga que acompanha sempre, malvadinha tu está em meu coração.







Capítulo 3



Mas a conversa continua por horas, me sinto livre conversando com ele, temos tanto em comum e tantas diferenças, consigo descobrir que ele faz Educação Fisíca, tem 25 anos e se chama Miguel, me afirmou ser solteiro apesar de eu não entrar neste campo para perguntar, fui sincera e disse o mesmo. Mas tomei muito cuidado para manter nossa conversa em um nível pouco intimo, não o conheço e não posso me revelar, ele tem todas as descrições que ansiaria em um homem, um parceiro em potencial, mas como disse é somente uma ânsia que nunca vou concretizar, mesmo que eu queira, está além da minha capacidade me relacionar com alguém.

Conversamos até as quatro horas da madrugada, quando relutante me despedi, prometendo voltar a noite ou falar com ele pessoalmente na faculdade, ele me ofereceu uma carona, mas de uma forma a não levantar suspeitas tive que recusar, sou obrigada a voltar com meu irmão mais velho não tenho como fugir.
Passo o dia no meu estágio completamente alheia ao que acontece ao meu redor, apenas pedindo a Chronos para acelerar o tempo e permitir esses minutos de descanso da minha vida e me entregar em uma conversa agradável com um cara lindo e inteligente, mas o dia é sufocante e não me dá tréguas.

Corro para casa pensando no que vestir para encontra-lo na faculdade, rezando para não parecer uma desesperada em busca de atenção. Visto meu melhor jeans que se adere ao meu corpo fazendo-o parecer mais sensual do que de fato é, coloco um sueter branco e botas pretas, com o frio que faz sou obrigada a colocar uma jaqueta de couro, me olho no espelho e fico imaginando o que fazer com meus cabelos longos, cacheados e loiros rebeldes, mas depois de todas as tentativas desisto e faço somente um coque frouxo com uma caneta segurando o penteado. Com o rosto limpo e jovial ensaio sorrisos e gestos, e acabo me frustrando como sou patética por isso.

Entro sorrindo no saguão da faculdade, coisa que raramente fiz, alguns alunos me olham como se eu fosse um ET, me assusto e penso: "Sou tão invisível assim que realmente nunca me notaram além dele?". Percorro o saguão com olhar aflito, sinto medo que ele não apareça ou tenha me achado terrivelmente chata para uma segunda conversa. Continuo procurando quando o reconheço de costas para mim, aproveito a oportunidade de olhar seu corpo perfeito, as costas largas, as pernas fortes e com as bochechas em chamas o bumbum bem feito.

Estou tão absorta em minha análise que o encanto apenas se quebra quando reparo um par de mãos femininas começando a enlaçar o seu pescoço e afundar as unhas longas e vermelhas em seu cabelo castanho que parece ser tão macio, neste exato momento meu sorriso se desfaz, meus olhos ardem, e tenho a certeza que realmente não sou boa o suficiente para uma segunda conversa. Apenas me sinto estranha, como se perdesse algo muito importante, mas vou repetindo para mim mesma "Foi somente uma conversa de um dia, ele não é nada para você".

Mantenho este pensamento, e com o coração apertado desvio do local que ele está e caminho para minha aula, assisto as aulas, faço os deveres, tudo novamente mecânico, fico triste com esta constatação, pois a Arquitetura é uma das minhas paixões, faço com felicidade meus projetos e cálculos, mas hoje não.
Hoje é apenas mais um ato a ser feito e terminado, para que eu possa correr para meu recanto afastado do mundo que parece me perseguir disposto a me machucar. Na hora do intervalo fujo do refeitório como a covarde que sou, não quero encontrá-lo, uma vez que ele despertou minha visão, sei que vou procurar, então corro para a biblioteca e pego um livro de poemas sem notar o titulo começo a ler e me arrependo quando na primeira página me confronto com o Soneto da Separação de Vinicius de Moraes:

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto..."

Estou absorvida pela leitura que não sinto sua presença, até que minha caneta é retirada dos meus cabelos me assustando com o cair pesado dos meus cachos pelas minhas costas, me viro e vejo aquele sorriso, sinto meu peito pequeno para meu coração que bate acelerado, ele me olha como se me visse por dentro, seu sorriso se desfaz e me pergunta:

- Te procurei no saguão e não te achei, passei na sua sala e tu estava tão entretida com os livros que não me viu, e também não foi ao refeitório, porque?

Suas palavras parecem tão inocentes e casuais, que me enchem com uma raiva que a muito tempo eu não sentia, ao mesmo tempo que sou dominada por um sentimento de posse que não tenho permissão para sentir, apenas reúno meus pertences, afasto a cadeira e olho em seus olhos com tanto ódio que ele simplesmente dá um passo para trás, como se sentisse o calendoscópio de emoções que passa por mim.

- Não gostaria de atrapalhar o encontro que tu estava tendo com sua guria no saguão, assim como uma hora na biblioteca seria muito mais proveitosa para mim do que sua companhia. - começo a me afastar quando ele pega minha mão, trazendo a tona todos aqueles sentidos despertados pelo seu primeiro toque. Mas a minha razão e raiva comanda neste momento, puxo minha mão de forma brusca e digo: - Nunca mais me toque, não chegue perto de mim e muito menos fale comigo, já tive minha cota de mentiras, então me poupe das suas desculpas.

Ele apenas me olha confuso, consigo sustentar seu olhar por alguns segundos antes de sentir meu olhos arderem, sei que devo me virar e fugir, essa sempre foi a solução fugir de cada potencial mágoa, de cada potencial amor. Minha vida já foi reduzida a nada, agora estou apenas reconstruindo um caminho e ninguém vai me impedir, nem mesmo ele.

Saio correndo não me importando com os olhares alheios, mas sentindo o olhar dele em minhas costas, rezo para que não me siga, quero apenas me esconder de tudo e me sentir segura novamente.



^AngelP^



1 comentários:

And_Rodrigues disse...

Cada capitulo de Polly esta melhor do que o anterior, e nos deixa com gostinho de quero mais. Me enchendo ainda mais de orgulho, que você continue nos presentiando com os seus escritos.

"Cada dia compartilhado contigo me trás uma satisfação que nunca poderei colocar no papel"

P Amodoro

^PAR^

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